domingo, 14 de outubro de 2012

Estudantes russos descobrem o Brasil. Gastaram imenso tempo preenchendo apostilhas traduzidas para o português e ainda pagaram R$ 700,00 cada uma?


Tags: Universidade, Comentários, Brasil
14.10.2012, 13:53




brasil
© Flickr.com/Andre Maceira/cc-by-nc-sa 3.0

O intercâmbio de estudantes entre a Rússia e o Brasil não é muito popular. O nosso grupo foi o primeiro na Faculdade de Jornalismo da Universidade Estatal de Moscou Lomonosov a estudar no Brasil, fomos uma espécie de novos “Cristóvãos Colombos”.

A aventura mais incrível da nossa vida começou há dois anos – fomos ao Brasil para estudar na Universidade de São Paulo. Anna Paisova, doutora em Filologia e chefe do Centro Iberoamericano da Universidade Estatal de Moscou Lomonosov, conta: “ Nos últimos dois anos, nove estudantes da faculdade já fizeram intercâmbio no Brasil. Este ano, seis estudantes escreveram suas teses de fim de curso sobre o Brasil. Dois estudantes estão fazendo exames para entrar na faculdade da USP.
Estudantes do todo o mundo já fazem ou sonham em fazer intercâmbio com universidades da Europa ou da América do Norte, porque a qualidade da educação nestes países é muito alta. Como disse Anna Paisova, o interesse pelo Brasil está ligado ao interesse pela cultura original e própria desse país, tão diferente da cultura russa. As favelas com os seus residentes, as frutarias nas ruas com enorme variedade de frutas a que não estamos habituados – os russos não podem ficar indiferentes a tudo isso.
Anna Veklich, estudante russa da Faculdade de Jornalismo, disse : “A Europa e os Estados Unidos nunca me atrairam. Interessava-me, sim, a América Latina com a sua vitalidade, sua própria filosofia de dança, a sua preguiça. A minha viagem ao Brasil foi uma pura aventura. Antes de chegar quase só sabia dizer: “Oi, tudo bem? Sou russa”. Também sabíamos cantar algumas canções brasileiras. A barreira da língua foi causa de muitos casos anedóticos que aconteceram conosco.
Cada passeio trazia muita alegria e alguns sofrimentos. Quando perguntávamos às pessoas sobre o caminho (onde, como chegar), a pessoa não entendia nada. E quando as pessoas explicavam o caminho para nós, não entendíamos nada! Mais tarde a gente se acostumou. Na primeira festinha conhecemos muita gente brasileira. Descobrimos que os brasileros conhecem a literatura russa e as cançoes russas. Foi legal!”
Alina Kaledina, aluna de pós-graduação da Faculdade de Psicologia da Universidade Lomonosov encontrou muitas coisas interessantes na sua área de estudo no Brasil. Alina fez pesquisas sobre dois temas diferentes e atuais: a discriminação e a religião.
“O Brasil é um país multicultural e com grande variedade de religiões. Na Rússia, não é possível uma pessoa ter duas religiões, mas no Brasil acontece. Como psicóloga, me interessava as relações entre o indivíduo e a religião. Eu visitei alguns eventos religiosos, assisti a vários ritos. O que achei mais fora do habitual foi o Rito de Purificação. Me pediram que eu imaginasse a minha família, minha casa na Rússia como se estivessem envoltas em um fogo de purificação. Isso me pareceu muito estranho, mas eu sou psicóloga e tenho respeito e interesse profissional pelas particularidades das culturas estrangeiras."
Em geral, o Brasil é uma terra muito interessante para os psicólogos . É, como os russos costumam dizer, um “campo por arar”, tem muitas coisas para investigar. Agora estou no Brasil para fazer as provas e entrar na Faculdade de Psicologia.
O Brasil é um país ótimo para viajar e fazer pesquisas, é como o paraíso. Mas, para chegar lá, como não podia deixar de ser, é preciso passar pelo inferno, o inferno da burocracia! Neste sentido, o Brasil é muito parecido com a Rússia.
Um estudante que queira fazer intercâmbio noutro país tem que obter autorização da Universidade do país para onde deseja ir.
Nós éramos cinco e tivemos que coletar muitos documentos em língua portuguesa e mandá-los para o Brasil. Foram vários : duas-três cartas de recomendação, uma carta explicando nossa motivação, curriculum vitae, cópia da avaliação académica e outros. Cada documento devia ter assinatura reconhecida. Coitado do coordenador do Departamento Internacional! Ele passou dias inteiros mandando os documentos por fax.
O mais caro e estressante foi outro procedimento – a obtenção do visto e legalização na Polícia Federal do Brasil. Tivemos que entregar na Embaixada o certificado de boa conduta, truduzido para português e com muitas apostilhas. Gastámos um imenso tempo e dinheiro com estas coisas, pagámos 700 reais cada uma. Mas na Polícia Federal nos disseram que não era necessário fazer tudo isto.
Esse caso é muito brasileiro. Mesmo assim, mantenho o desejo de voltar a este país de contrastes para conhecer melhor a sua grande cultura. 
Do Blog Radio Voz da Rússia http://portuguese.ruvr.ru
* Obs. deste blog, se a polícia federal disse que não era necessário fazer tudo isto, que a embaixada  brasileira peça-lhes desculpas e principalmente devolva-lhes os seus R$ 700,00 para cada uma.

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