sábado, 15 de setembro de 2012

SAÚDE - “TEORIA E PRÁTICA” (Juiz de Fora)


Laerte Braga
Jornalista Internacional e candidato a prefeito por Juiz de Fora pelo PCB.


Laerte Braga(PCB)
candidato a prefeito por
Juiz de Fora- MG
 article.wn.com
No primeiro debate envolvendo os candidatos a prefeito em Juiz de Fora o atual chefe do Executivo citou números para tentar demonstrar que a saúde pública é de boa qualidade, atende às necessidades da população e o modelo desenvolvido em seu governo é aquele que, com continuidade, vai resolver os problemas, ou chamados gargalos do setor.

Um dos candidatos participantes respondeu de forma simples aos fartos números do prefeito. “Ele exibiu os números positivos e ocultou os números negativos”.

É mais que isso. Bem mais.

O atual prefeito ao citar tantos milhões de consultas se esquece de dizer que consultas médicas são dever mínimo do Poder Público e números como esse, o de consultas, ou mesmo o de exames, são os mesmos em cidades do porte de Juiz de Fora.

É como usar o número de usuários dos serviços de transportes coletivos urbanos num mês, qualquer mês. É claro que serão elevados. As pessoas têm necessidade dos serviços de transportes coletivos e usam esses serviços. Qualquer que seja o prefeito.

Número não significa excelência em termos de qualidade.

O modelo é perverso, beneficia o setor privado num direito público fundamental e revela uma característica do PSDB em todo o País. A de privatizar, qualquer que seja o sinônimo usado. Terceirização, Parceria Público Privada, Concessão, etc (como afirma o jornalista José Simão em sua coluna na FOLHA DE SÃO PAULO, há um dicionário para tucanos). Um jeito tucano de tucanar as palavras e expressões, as situações e tentar mascará-las com números, estatísticas, dados, enfim, um processo que na essência reduz o ser humano a número.

O nó górdio da saúde pública em Juiz de Fora é o modelo privatista. A transformação da saúde em negócio.

Vamos a um exemplo concreto. No primeiro governo de FHC o então ministro da Saúde Adib Jatene propôs a criação da CPMF para suprir a deficiência de recursos para a área de saúde pública. FHC concordou, a mensagem com o projeto de lei foi enviada ao Congresso e aprovado.

O segundo ato dessa história foi o pedido de demissão do ministro Jatene – um médico sério, respeitável. FHC começou a usar o dinheiro que seria para a saúde no pagamento de juros da dívida pública externa e interna.

No governo Lula, quando da tentativa de transformar a CPMF em imposto permanente com o compromisso de usar os recursos na saúde pública, o mesmo PSDB que havia criado o imposto, votou contra, derrubou a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras, o único imposto, segundo Adib Jatene, que as elites econômicas não conseguiam sonegar.

Há uma discussão que tenta impedir o entendimento claro das propostas do PCB – Partido Comunista Brasileiro – sobre saúde. Para o prefeito são propostas oriundas de fantasia, teoria, sonho e não levam a lugar algum, é preciso prática.

Que tipo de prática? Privatizar, exibir números favoráveis que são comuns a todas as prefeituras, porque atos de rotina na saúde e jogar para debaixo do tapete os números reais do caos que vive o setor?

Ou fantasia, como ele afirma, seria o Poder Público assumir o controle da saúde pública?

A terceirização implica em precarizar a saúde. É simples. O que é terceirizado/privatizado significa gerar lucro para alguém, mesmo que seja uma Fundação. Custódio citou o exemplo da Maternidade Teresinha de Jesus com atendimento 100% do SUS. Não citou que aquele hospital é conveniado e pertence à iniciativa privada – Faculdade Suprema – servindo inclusive para o processo de formação dos alunos da referida faculdade. É privado e a Prefeitura paga por esse atendimento pleno com o dinheiro do contribuinte.

Quem se dispuser a percorrer as unidades de saúde, postos, etc da cidade num sábado não vai achar um pediatra. Essencial naquilo de que chamam de “atenção primária”, ou seja, a tucanização do atendimento imediato, do atendimento primeiro.

A expressão ou jargão técnico ou não, não substitui as falhas do setor.

O que é fantasia? Propor à cidade que o Poder Público assuma as responsabilidades plenas pela “gerência” – vá lá – da saúde pública e realize concursos públicos para todos os profissionais da área suprindo as carências e ampliando todos os estágios de atendimento? É fantasia chamar os profissionais de saúde para um diálogo com o Poder Público em torno de um plano de cargos, salários e carreiras? É fantasia ouvir a população diretamente, vale dizer construir o Poder Popular, ao invés de tentar decifrar a vontade popular por pesquisas e assim fugir ao debate, ao diálogo com o cidadão?

Fantasia é vender o modelo atual como perfeito se valendo de dados que são comuns a todas as cidades do mesmo porte da nossa e tentar transformá-los em conquista da administração pública.

Essa é uma das características do mundo contemporâneo. Seja nas cidades, seja nos países. A transformação de dados em espetáculo, em show de números, em jeito de desviar o olhar dos problemas para um lado e ignorar o outro, o lado sombrio.

Não há fantasia nas propostas do PCB para a saúde pública. O que há é realidade.

Ao falar em “teoria e prática” e tentar transformar a “prática tucana” em caminho seguro e as propostas de mudanças concretas e efetivas, de mudança das estruturas, em fantasia, é só um jeito de não discutir o assunto, de criar rótulos e buscar iludir as pessoas numa característica que permeia tudo no País hoje. Até o nosso esporte mais popular o futebol. A prática de contar o número de escanteios, de faltas, de bolas perdidas, de chutes a gol, que é natural e cabe para o exame de uma partida, para as definições de um técnico, mas não são valores absolutos, à medida que um chute às vezes resulta em gol e cem chutes são desperdiçados.

O prefeito chuta os números e chuta todos para fora. Nem raspando passam pelas traves.

Na saúde, em todos os problemas que afligem a cidade, faz o mesmo. É só pegar o vasto e extenso programa de governo da eleição anterior, comparar o que lá está escrito, os prazos, as iniciativas, as decisões e perceber  que nem um terço do que foi prometido foi feito, nem um terço da participação do governo estadual existiu, exceto agora, na avalanche de maquetes e obras de maquiagem, exatamente porque é ano eleitoral.

A fantasia é o prefeito que veste e é o prefeito quem desfila com a mesma por entrevistas, programa eleitoral gratuito, debates, todas as formas possíveis de exibir os tais números.

Realidade é o usuário da saúde pública chegar a uma unidade de saúde com uma receita médica e não achar paracetamol, um analgésico e antitérmico de uso corriqueiro no dia a dia.

E há sim, espera de horas em UPAS, por falta de um quadro efetivo, estável e bem remunerado de profissionais da área de saúde, além de infraestrutura para que o que chamam de “equipamentos” (prédios, aparelhos para exames, etc).

Fantasia é dizer o contrário, é defender a privatização ou terceirização e transformar a saúde pública em negócio, sujeitando a população a um modelo perverso, que por milhões que sejam as consultas, ato corriqueiro e mínimo, mantêm o cidadão à margem do processo.

A prática tucana é essa, historicamente. A “teoria” do PCB é outra prática. A da mudança. A da percepção do ser humano como indispensável na construção da saúde pública gerida pelo Poder Público e ao lado dos profissionais. Isso não é mistério, não é idéia fantasiosa. Falo do Poder Popular, é apenas retomar para o cidadão aquilo que é direito básico, fundamental, fazer com que a saúde seja pública e de boa qualidade e não um negócio.

Integrar saúde, educação, assistência social, transformar a saúde bucal em processo permanente e real e isso só vai ser conseguido com o Poder Público somado ao Poder Popular e os profissionais do setor.

Teoria sem aspas é a prática tucana. Prática sem aspas são as propostas do PCB.

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